quarta-feira, 27 de março de 2013

ALIMENTO


Para o nosso encontro 
arrumo sobre a mesa
uma toalha de luar
e cálices cheios até a borda
de estrelas líquidas;
os pratos estarão perfumados
com a essência das primaveras.

Comeremos com as mãos
uma comida limpa e suave,
pão do mais puro trigo
e azeite de bíblicos olivais.
As palavras sairão de nossas bocas
como pássaros que finalmente 
encontraram, depois de uma longa
travessia, um país cheio de sol.

E, então, seremos alimento 
um para o outro.

Roseana Murray
In Recados do Corpo e da Alma.

O TESOURO DAS HORAS



A cada novo dia,
a vida me oferece
o tesouro das horas,
inteiramente minhas.

Helena Kolody
in Correnteza





domingo, 24 de março de 2013

CAIO FERNANDO ABREU



Derramei três lágrimas:
a primeira escorreu pela face e perdeu-se na boca;
a segunda morreu achatada contra o assoalho;
a terceira caiu na tua mão.
E foi a que mais doeu.

Caio Fernando Abreu.

sábado, 23 de março de 2013

PAULO LEMINSKI



ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram 
que a mágoa nova
virasse chaga antiga

ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa 
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa.

Paulo Leminski
In Traço de Poeta

sexta-feira, 22 de março de 2013

EMILY DICKINSON


De mim não tem medo a abelha.
A borboleta eu conheço.
A bela gente dos bosques
Me recebe cordialmente.

Se chego, riem mais alto os regatos,
Brinca a brisa mais travessa;
Por que então, olhos meus, vossa névoa de prata?
Ó claro dia estival, por quê?

Emily Dickinson

quinta-feira, 21 de março de 2013

ALBERT CAMUS


O homem não é nada em si mesmo. 
Não passa de uma probabilidade infinita.
Mas ele é o responsável infinito dessa probabilidade.

Albert Camus

terça-feira, 19 de março de 2013

BORBOLETAS



Azuis e amarelas
borboletas preenchem o ar
que respiro
suas asas percorrem minha
pele,
entram em meu sangue,
deságuam nas mãos com que escrevo
este poema.

Roseana Murray
In Poemas para ler na escola

sexta-feira, 15 de março de 2013

RUMI



"Não olhe para mim em forma humana, 
encontre-me dentro de ti, em teu coração."

Rumi

quinta-feira, 14 de março de 2013

TOLSTÓI


"Há quem passe por um bosque,
e só veja lenha para a fogueira."

Leon Tolstói

RAINER MARIA RILKE


«Duas pessoas com o mesmo grau de paz
não precisam falar da melodia que define as suas horas.
Essa melodia é o que elas têm de comum entre si e por si.
Existe entre elas algo como um altar ardente,
e elas aproximam-se da chama sagrada 
respeitosamente 
com as suas raras sílabas.»

Rainer Maria Rilke


terça-feira, 12 de março de 2013

SONETO



Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.

Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.

Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.

E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.

António Gedeão

domingo, 10 de março de 2013

TAGORE


A poesia é o eco da melodia
do universo no coração dos humanos.

Rabindranath Tagore

quarta-feira, 6 de março de 2013

DOMINGOS PELLEGRINI



A felicidade familiar é como uma planta que 
cresce todo dia, todo ano,
com novos ramos mas também folhas que caem, 
ramos que quebram, galhos que apodrecem, 
frutos sadios e frutos bichados, 
sendo os frutos os dias ou momentos, 
as folhas sendo as horas, 
cada uma diferente da outra como são 
diferentes os minutos.

Domingos Pellegrini 

segunda-feira, 4 de março de 2013

CORA CORALINA



"O saber a gente aprende com os mestres e os livros. 
A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes."

Cora Coralina

sexta-feira, 1 de março de 2013

LIMIAR




Somos ainda o limiar – espessa
nuvem embrionária. Verdes,
imaturos crustáceos
emergimos
à superfície grávida das ondas.
Somos
o medo ou sua
improvável renúncia. O que
sabemos do
amor, da morte, e só
difusa,
opaca,
luminosa fábula.

Albano Martins
in Antologia Poética